jeudi 18 novembre 2010

Estudo sobre Espinoza e a Liberdade


Espinoza concebe Deus como uma força produtiva em vez de uma força criadora e investiga se o ser humano poderia ser livre, que significa ser a causa ativa de suas ações. Deus é livre porque nada o constrange, o homem é  constrangido por forças externas a ele. A grande questão é se é possível o homem agir movido pelas forças internas a ele e, assim, ser livre.

Para Espinoza, a liberdade só se dá se forças que vierem de dentro constituirem a sua vida, o que equivale na linguagem de Nietzsche à vontade de potência.

Aquele que não pode efetuar a sua própria natureza por causa de forças externas está na servidão. O homem está articulado a três gêneros de conhecimento possíveis: o gênero da experiência vaga ou da consciência, que é apenas o resultado que nossos corpos fazem do encontro com a natureza, a marca dos encontros dos nossos corpos com outros corpos e com a vida.

A consciência não é ativa, é resultado de forças externas, o homem da consciência, aquele que não consegue ultrapassar a consciência, é, assim, o homem da servidão, é o que as forças externas determinarem que ele seja. O segundo gênero do conhecimento seria a razão ou noção comum, quando o homem interage com a natureza e começa a entender as noções comuns da natureza, o homem deixa de ser apenas o resultado do que vem de fora para conhecer o que são essas forças externas, mas este gênero ainda não permite que o homem seja o criador, o produtor porque sua capacidade se limita a conhecer as relações que já existem, surge a possibilidade da prática científica.

O terceiro gênero do conhecimento é a ciência intuitiva, o poder de invenção e de rigor do sujeito humano, quando a razão busca a verdade no campo do conhecimento e busca o melhor no campo moral objetivando produzir novos modos de vida.

A função dele é altamente rigorosa como na matemática e criativa, inventora como na arte. O terceiro gênero é para ultrapassar o que existe e produzir novas formas inéditas de viver, como uma outra arte, outros pensamentos, outra música.

Espinoza, no século XVII já anunciava a fadiga que o mundo nos causa e a necessidade de produzir algo novo para viver bem, com liberdade a partir de novas formas de pensar, agir, conceber a natureza. O homem obtém a liberdade somente através da força maior da vida, que é o pensamento. Pensamento e liberdade se articulam.

Espinoza é um pensador do devir, do processo, não existe uma obra de Espinoza e sim outros pensadores que articularam com Espinoza esse processo, oportunando o nascimento de novos modos de vida. Como exemplo de pensador espinozista temos Michel Foucault, que no final da vida investe em estudar a Grécia e descobre ali um novo modo de vida, a preocupação em ser livre.

O grego tem duas práticas que se destacam: a preocupação em governar as cidades, produzir suas próprias leis, sua organização política e também a preocupação e o poder de administrar a economia de sua cidade e ele pensa em como ter poder sobre sua cidade e sobre sua casa(economia) sem ter poder sobre si mesmo.

Ao levantar essa questão, passa a pensar sobre a liberdade do pensamento. A única maneira que poderia exercer o poder sobre sua cidade e  sobre a economia de sua cidade seria tendo poder sobre si mesmo. O grego, então, inventa a relação agonística de si consigo próprio: a concepção de que o homem traz dentro de si múltiplas forças, divididas entre forças que tendem para o religioso ou para o supersticioso ou para o externo, entre elas as forças ativas, sendo a realização destas fundamentais para o exercício da liberdade.

O confronto agonístico é a luta entre as forças dentro de si com o objetivo de produzir uma vida livre. O homem torna-se livre quando faz com que as forças ativas dominem as forças que tendem à servidão(reativas). A questão estética do grego não é produzir objetos belos fora dele, mas produzir a própria vida, uma vida bela.

Essa forma de vida superior, vida livre, só é conseguida quando quem a dirige passa a ser você mesmo. Só há liberdade quando a causa da minha existência vier de dentro de mim. Foucault, a partir de sua articulação espinozista, oportuniza o surgimento de novas linhas de pensamentos, novos conceitos teóricos, novas formações da subjetividade, novos meios de entender a natureza. Sem liberdade, não há pensamento. Sem pensamento, só há superstição. O Maior adversário da vida não é o erro mas a superstição e as tolices.

A superação só ocorre se o pensamento passar a ser o governador da nossa existência. Com o terceiro gênero do conhecimento, Espinoza rompe com todas as formas de pensamento que existiam no Ocidente. 
 
Porque a natureza não se explicaria pelos modelos que existiam. A natureza não tem nenhum significado, é um campo de forças, de passagem, de devenires, como um processo, um confronto.

Nosso equívoco era tentar dar conta da natureza usando a semiótica da significação. Dar um significado à natureza é uma prática da consciência, pra entender o campo da natureza é preciso pensá-la como relação de forças, de poder. É preciso sair da semiologia clássica para uma semiótica das forças, da intensidade.

O pensamento precisa ultrapassar a linha de significação clássica e produzir uma natureza completamente diferente em relação à força e à liberdade. A biologia molecular, talvez a física quântica, algumas formas de abordagem da literatura e história são exemplos de ciências atuais espinozistas. Deleuze é outro exemplo de pensador espinozista.