mercredi 16 décembre 2009

mergulho dialético nas sombras d`alma



Vozes dizem
sim, q sou desprezivel nao mereco viver meu lugar eh junto deles mortos sou um demonio e devo me mutilar ou todos sofrerao por minha culpa e q sou medrosa pq nao pego a faca e acabo logo com tudo
todos sofrem como as vozes agudas dilacerando os ouvidos, toda mudança é dor, lembra da mulher que abraçou os jacarés? eu sei que era ficcional mas oq não é? a faca: talvez acabe com uma parcela, pra acabar com toda dor pode ser necessário muito mais lâmina e muito mais voz...
pra acabar com toda dor, sim, necessata muito mais voz, muita lamina, muita alma, muita coragem, pouca vida e muita morte, um nirvana inexoravel, sem volta ou direito a revolta, uma ida sem vinda, praquele lugar sem espaço ou tempo, desconhecido por todos, temidos por uns, desejados por outros, porem sempre pungente pelo proprio misterio neste desconhecido inerente... e heis q haverei tanta alma ou morrerei covarde com dor, sem honra e dignidade? no arrastar uma subvida imerecida, sem quaisquer utilidades?
mas será capaz de ir? tocar um sentir inerte, não mais arrastar ou voar, simplesmente flutuar um ângulo de gravitação desconhecido - talvez anti-gravidade? sem espaço ou tempo, não estamos cá rompendo com isso? talvez possamos na dor ver a diminuta pequeneza do acontecimento do nosso corpo, mas, além da faca (cega, afiada) prateada, além do nosso reflexo persecutório, do lado especular do nosso medo, no avesso do espelho, sem osso fogo sangue sopro, no Verbo Não-Conjugado - não nos conjugaremos jamais. Jamais.
então teria algum sentido, alguma percepção, se deixar tragar agora pelo Reverso deste Pluriverso? mastigue os cacos dos seus espelhos, deixe vir à boca o sangue da tua saliva, do que coleta teu vaso. cuspa tua dor e, semando sangue cuspe carne que pungente lateja, acelere o pulso do mundo.
ainda nos resta algumas ferramentas, no tempo acordado
a palavra não é o que nos torna humanos.
nós nos tornamos. da existência manca, o vislumbre do Ser - do qual fomos ex-propriados, e que nossa pulsão nos leva sempre a querer devorá-lo.
os antigos astecas chamavam os cogumelos de "carne-de-Deus".
do nada surgimos existindo sem disso saber, sendo um lampejo de vida impulsionado pela necessidade da sobrevivencia e fustigado pela tentaçao de tudo entender e buscar o mais interminavel do ar infinito que nao sacia a fome, a sede porem nos limita na precariedade da breve estada terrena, pretensa humanidade
acaso não sentes em teus cabelos o Sopro?
existindo, sem saber, para não saber. existindo para não Ser.
nada existe, apenas o lapso entre o inspirar e o expirar
e o Sopro?
não sei da língua, só dos olhos como fenda, amendoados. não sei de libras ou de relações de equilíbrio, só sinto eriçar os cabelos da nuca de tempos em tempos, quando vejo Eles se fundirem e se confundirem n'Ela. Ela me chama, de um modo doce. não sei responder Teu chamado.
que inunda as narinas com a força cega de existir.
o sopro da fumaça do cigarro que pigarreia nas entranhas da má sina do pulmao entre o que é, intrometido sopro vital sujo me levando pro inevitavel desconhecido devir e agenciando uma historia interrompida no vai e vem das forças q cegam tal dita existencia
forças cegas que preenchem essa existência, que insistem neste acontecimento, em instâncias subjetivas
pode se odiar estar cru e se assombrar com as antigas cicatrizes do espírito
as florestas sussuram segredos tão antigos
a montanha e a gravidez de Gaia, temos que parir de nós uma montanha
Gaia rejubila-se ante a propria acontencencia nos modernos tempos de caos e abismos subhumanos, no topo de sua montanha brilhante e luzidia, cicatrizada pelos seculos da posterior insensatez incapaz q tem sido de frutificar um monticulo sequer, beirando o precipicio cavado pela estulticie mor da estrela cozida nas trevas de panico de bem suceder a utilizar o breu pra crescer como sabiam bem fazer os antigos. ficando apenas este apetecer nostalgico do injetado e comodamente desperdiçado quebrar de oportunidades
tudo é fruto, e mesmo o Negro deve ser o fruto d'Ela. não digo de Gaia. mas do Último Útero, PeristálticA, Aquela que, sem olhos, tudo alcança. que crava as unhas fundo nas nossas omoplatas para que venham as asas. está voando por sombras onde a existência humana toda ainda irá despencar.
vá, e sintas no teu umbigo o ritmo dos que tocam nas pedras
batucam cores, um ritmo demoníaco numa efusão de vida, um cheiro acre, um corpo podre. ainda assim deuses porque caixas.
não nos afogamos na dialética judaico-cristã. não me afogo. inundo minha alma de uma escuridão maciça. tácteis seres em tessituras inorgânicas se esvaem quando a pedra se esfarela. a pedra, que aspira e é dom de coagular grãos. da pedra, a areia. do sopro, o fogo - e o suficiente para encher os vasos do Sopro, do Vento que, tempestivamente, nos traga para dentro dA boca, Phe, A Boca que fala.
a caixa está aberta. a janela é uma construção para ver. lançar o olho e dele se perder numa amálgama de figuras, agarrar a pata da rã, ouvir no coaxar os espocares bruscos da caixa craniana.
voar pode ser menos interessante que flutuar...
não é estoicismo, não é judaísmo cristianismo budismo. não é karma, tampouco dharma.
não é a palavra não, não é palavra e tampouco humano.
não é coisa, não é asa, não é vento, não é sopro.
não é pedra, não é osso, não é grão e nem osso.
não é falta, não é abundância, não é fome ou saciedade.
não é fraqueza nem plenitude. nem macho nem fêmea. nem deus nem quimera.

Verbo Não Conjugado, não é palavra, muito menos verbo. não é auxílio para nosso conhecimento encaixotado.

um sapo transbordando entre as frestas, não é mais verde, já é cinza.
ao cair a noite, ele se indaga se houve dia.
não duvida do sol, não duvida da luz.
só ouve o Longe, que lhe canta versos pluriversais.

olha as estrelas, se sente de uma beleza diminuta, incômoda beleza frágil como o único vôo da vida de uma borboleta.

não é feliz, nem triste: é belo seu cantarolar insatisfeito. busca somente.

Longe, Ouvir.
Longe, o Ver.
Pernas que se atem ao menstruo, que suguem de volta o sangue coagulado.
ismos que perseguem o ente desfigurado na insana lida do nao saber de si, dolorosa feialdade insignificante comandando a vontade q nao deveria e jorrando restos de carniças putrefatas das partes inanimadas q compoem este jazer sem ser, sem dizer, palavras sem asas, sem falta, sem busca na inercia da podridao da angustia, privada, inexoravel, pungente a incitar a doente a se mutilar, rasgando a pele, derramando o fluxo de sangue repugnante esperando a lenta e em seculos nao vinda morte fim de tudo e dos maus augurios, alivio almejado a quem nao pode ser amada, honrada, dignificada, nada nada nada

assim é
assim foi
assim choro
a solidao sem canto
no canto, invesivel
perecivel mas nem tanto
tanto tanto tanto

vão este que apodera e descarta tal melancolico ocupador de mundo alheio, indesejado, preterido, marcado, sofra verme no corpo q nao lhe pertence e solte o espirito adjacente para a chama, a cama, a lama, ama-a!
ninguém ceifou da carne o verso secretado. quem veio colher das mãos que não haviam as estrelas suicidas? o sapo que, de morrer, se fez passos, se fez pântano, se fez mato. o verbo já conjugado. que de seus mapas, conhece tanto - as palavras, os sons e seus lugares: ali, no galho, uma cigarra - noutro, um pássaro. cantos.
gralhas esgoeladas num sem fim de devorar vísceras. urdindo um pano para dentro. regurgitando o secretar, aquilo que se furta à cor das penas.
porque pálida, a estrela mais distante.
ninguém ceifou do Sol sua pele mais íntima.
ninguém trouxe do átomo, do repuxo de seu abismo, do vazio de sua imagem - a Figura;
Ela jaz o sono de todos, veio colher do meu pomar fruta madura, suco escorrendo pelas minhas costas.
devorei todos os espelhos, os cacos que se plantaram na minha garganta. babujando sangue e saliva e lágrima, gritei que Ela havia me matado. e então morri. e pálpebras tremulando luz de vela, pude vê-lA. antes de comer meus olhos, pude tocá-la. ao voltar, cego, pedi que me guiasse
ao voltar, cego, pedi que me guiassem entre obstáculos. colhi das flores, seu podre titubeante. colhi das cicatrizes o filete de pétala nova, recolhi à carne a água que meu vaso despejou Àquela que sem olhos sonha um eu, vaso. plantar nas omoplatas. não porque Dor, mas porque trevas. banhei-me do escuro de Tua pele. agora, nutro dias insones.


o verso, atrevido, criou-se por si ou por carencia romantica na falta racional por nao saber fazer-se prosa, uma rosa que , imaginada, sonhada, desejada a ser colhida na mais brilhante estrela do sentir, à espera do principe que lhe toque os labios e desperte o adormecido calor ardente de paixao transbordante, desviante da moral ceifada no universo da razao.


o desfalecer de nao aguentar tao doce afeto, palida, distante do concreto, a queimar no Sol, astro rei imperioso, impondo vida, cantarolando a cantiga do amor, divino magico que da figura sapo se fez espaço no tocar da intimidade dessas subjetividades jovens, pequenas, aprendizes, suicidas descobrindo o veu do partilhar e plantar, urde a seiva do mel, meu, teu, nosso olhar para o céu, sem nada dizer, apenas contemplar a mansidao das maos dadas, deite tua cabeça nos meus ombros e sinta, sinta, sinta, consinta, banhando nos prazeres diletantes, disertantes deste vaso de ternura infinda.

samedi 21 novembre 2009

Desabafo


Sinto-me enojadamente imprestável. Exalo preguiça, meu humor está breu. Preciso atividade, só que é hora de dormir. Sinto-me chata, feia, lerda, cadê minha identidade? E ainda há panacas dizendo que anti-depressivos são pílulas da felicidade... de quem?! Deve ser de quem não toma! A única certeza que tenho é que se eu tivesse alguma droga pesada comigo agora não contaria até três para usá-la... Sou tão instável enquanto no mundo as coisas parecem ser as mesmas. Tudo acontece, porém o sentido é sempre o mesmo, continuar funcionando. Preocupação é besteira transitória engolida e triturada pelo tempo. O objetivo mor é o desapego... material, social, carnal, corporal, emocional, total... utopia!

Penso que as coisas estão todas sempre do mesmo jeito. Não há o que temer. Paradoxalmente, sinto tanto medo... de viver, de morrer, de sofrer... Embalde tento descrever meus sentimentos, a maneira como me percebo viva. Inútil escrita, inútil fala, tão distantes de minha pretensão, faltam códigos linguísticos pro meu relato. Sejam quais palavras eu utilize, parecem pequenas e poucas, imprecisas e mortas, ineptas pro discurso do meu desejo. Que eu caia, por isso, na implosão perfeita do silêncio, que exploda de mim o imperfeito dito, a palavra que me denuncie onde não quero ou nem suporto, contudo que seja expressão deste ente sem outro recurso que o torne humano, seja como for.

jeudi 5 novembre 2009

A Terra em 100 Anos

Este documentário mostra o supercomputador chamado “Simulador Terrestre (Earth Simulator CNTR)”. Este computador já fez previsões que se confirmaram, como o furacão Catarina - que foi o primeiro furacão a atingir o Brasil no estado de Santa Catarina. Seus cálculos mostram como o clima vai mudar em 100 anos, com o aumento dos gases de efeito estufa; como a floresta Amazônica vai desaparecer, como diminuirá as áreas para plantio no mundo. Com seu enorme poder computacional, pode levar em conta todos os fatores responsáveis pelo clima, como luz solar, inclinações da órbita da Terra e até o escurecimento global causado pela poluição. Ele mostra que, realmente, a presença do homem afeta o clima da Terra. Mais informações: http://en.wikipedia.org/wiki/Earth_Simulator  

Blog Especial


Agradeço à Angélica Tulhol do blog Anda AMbiente pelo selo e compartilho com os blogs:

O Gozo da Letra de Ana Guimarães
http://aninhatenterrara.blogspot.com/ de Aninha Tenterrar 
Proyecto Cultural Sur Brasil em São Paulo de Dora Dimolitsas
Encontros e Desencontros de Rosângela Primo
http://sensibilidadeanavegarcompoesias.blogspot.com/ de Anjopoesia



jeudi 15 octobre 2009

Manicome


Apesar das presas tenho papel
Apesar de presa tenho pensamento
Apesar da tristeza, invento meu céu
Apesar da moleza, exploro em tento


Socorro, fui roubada
Levaram minhas forças, minh'alma
Doparam meu corpo, controlaram meu espaço
Demandaram o instrumento


Que não pude fornecer
Manipularam-me com cimento
Mal posso mexer


Miséria humana que se deve aceitar,
Então por que o "chicotear"
Moral e emocionalmente?

samedi 26 septembre 2009

Uma filosofia de vida

por: Tania Montandon


Um grande foco de luz à esquerda
Intuição
Curvos caminhos a escolher
Tentação
Garras visuais às faíscas a jazer
Inspiração

Desprendendo o efêmero físico
De quaisquer necessidades de estímulos
Com toda a imagem inextinguível
Daquele insigne Bem sentido...
-

mardi 1 septembre 2009

Destino traiçoeiro

Destino traiçoeiro

gal_kopia

Larissa era uma moça adorável, bem dotada, cuidadosamente educada, dum espírito delicado. Nascera numa pequena cidade do interior, de costumes conservadores e católicos enraizados. Sua vida era um romance inacabado. Viajava por todo o globo, dos lugares mais longínquos aos paraísos fictícios, debruçada nas inebriantes leituras de maiorais literatos. Não havia autor renomado que não tomasse conhecimento. Fez da leitura sua mais fiel companheira, ao experimentar através dela todas as emoções que se poderia nomear e também as inomináveis. Mas nem tudo era um mar de rosas. Muitos não compreendiam o que prendia por horas a fio uma moça jovem e bem-nutrida enfurnada em seu quarto. Ganhara o estigma de “melancólica burguesinha”, embora conseguisse conquistar com razoável facilidade a simpatia dos concidadãos. Todos tentavam, em vão, persuadi-la a se divertir com as outras garotas, a participar dos eventos esportivos, a curtir brincadeiras e momentos alegres.

Contudo a jovem não partilhava os interesses das colegas de escola, os quais considerava fúteis e superficiais. Também não se enturmava nos esportes, só participava quando era expressamente obrigada, sob pena de não poder continuar os estudos. Não possuía, de qualquer forma, habilidades atléticas. Usava óculos, estatura mediana, andar acanhado, movimentos por demais delicados e desastrados para pretender um mínimo rendimento em atividades físicas.

Era, sobretudo, uma visionária. Fantasiava seu mundo ideal, utopias românticas, seu brilhantismo extenuante. Não a atraía a realidade concreta. Gostava de caminhadas sem destino certo, observando o movimento da cidade como se estivesse muito distante dali. Por vezes parava e ficava escutando o canto dum passarinho, totalmente absorvida por ele, deixando sua mente leve divagando nos rodopios e voando para onde quer que fosse o passarinho... Em sua face, apenas permanecia uma excêntrica tranqüilidade e um semi-sorriso sutil. Seu interior era sempre um mistério.

Pressa, palpitações, balbúrdia de pensamentos invadiam sua calma mente todas as vezes que seu pai chegava com um presente fascinante, fosse um original de Virgínia Woolf, James Joyce ou Victor Hugo. Não lhe agradava as traduções. Aprendera a ler em francês, inglês e espanhol, embora nunca tivesse tido aulas de línguas. Sonhava tornar-se, um dia, escritora e, assim, talvez imortal em sua obra.

Porém, o destino não lhe fora tão gentil. Ainda na precoce idade de cinco anos, fora obrigada a presenciar a lenta consunção corporal que levou a alma de sua preciosa mãe. Desde então, o sorriso e o ânimo vital desaparecera do rosto de seu pai. No entanto, não se pode dizer que Larissa tenha tido uma criação infeliz. Sendo muito jovem e de coração um tanto versátil, não pareceu ser um terrível obstáculo transferir seu amor filial para a velha Naná, vetusta governanta da casa. Ali morava antes mesmo do nascimento de Larissa. O que seria dos Souza sem a velha e bondosa Naná?

Senhora dos cuidados caprichosos e essenciais do lar, não deixava nenhum desajuste cotidiano atrapalhar a harmonia do andamento doméstico da família. Naná não conhecera seus pais. Abandonada numa cesta de pão à porta da tradicional geração Souza precedente, foi ali que encontrou um aconchego e um trabalho decente, que gerou em sua alma o sentimento límpido de uma imensa gratidão, dando para se notar em sua inteira dedicação de corpo, suor e coração àquele lar e àquela família.

Larissa e Naná construíram ao longo dos anos um vínculo emocional e confidencial forte, conciliando afetos de natureza maternal aos de amizade fraternal. Essa relação foi imprescindível para o desenvolvimento físico e psicológico da jovem, já que não pôde contar com uma presença vivificadora e confortante da parte do pai. Este parecia deixar-se abismar cada vez mais em sua prisão pretérito-emocional. Nunca conseguiu se conformar à injusta perda de uma paixão tão honesta e recíproca à sua pura visão.

Seu Antônio tornou-se mais velho que o esperado para sua idade. Taciturno, ensimesmado, perdido na rotina cíclica e habitual inevitável para se manter vivo. Seguia seu ritual singular e discreto cheio de automatismos mundanos no dia a dia; comer, dormir, responder monossilabicamente a quaisquer perguntas, ir à missa todas as manhãs rezar para a alma de Isadora – que Deus a tenha e abençoe; assim como o sol nasce e desaparece a cada doze horas.

Ardente e voluptuosa sensação do êxtase exultado e incriado pela jovem mente de férteis ramos da cognição imaginária invade o sono daquela alma até então pura e infantilizada, seja por disciplina ou sua natureza insocializada.

- Larissa, abra esta porta agora e diga o que está acontecendo ou terei que chamar um de seus tios para quebrá-la. E tenha certeza de que nunca mais verá uma fechadura ao seu alcance enquanto morar nesta casa. São mais de nove horas e a diretora da escola já ligou três vezes. Vamos, não estou brincando, moça!

Abrir a porta, devo abrir a porta, não quero abrir a porta, vou abrir a porta, não posso abrir a p... AAhhhhhhhhhhhh!!! O buraco negro indescritível cobria-a da cabeça aos pés com estalidos parecidos aos daqueles fogos de festa junina, músculos remexiam-se com autonomia, pequeninos clarões finos e sempre adornados por cores fosforescentes vinham e iam, deixando aquela ardência intermitente entre as pálpebras e as camadas mais fundas e sensíveis dos olhos. A ubiqüidade do surdo som aterrorizante parecia ter energia infinita e onipotente, fazendo-se descartável e ridícula qualquer tentativa de controlá-lo.

Assim Larissa percebia a luta no interior de sua alma, semi-viva semi-morta, sentindo à exaustão quão vã seria uma iniciativa de representação mundana da nulidade contraposta ao poder daquele momento singular, desorientado e constrangedor em que foi jogada à sua revelia, subindo à mente parcelas de algum pensamento do tipo “este corpo é meu? Está vivo? O que é vida? Quem sou? Morri? O que é morte?”, porém sem nenhuma precisão ou clareza – tudo era cansaço imenso, como jamais vivido até em então.

Bam! O tio arrombou a porta e seus olhos, ao varrer o quarto, encontraram os olhos arregalados da menina que pareciam à iminência de pular para fora do rosto.


Tania Montandon

*publicado originalmente em: http://www.veropoema.net/

dimanche 19 juillet 2009

Uma ilusão intelectual



"lo más profundo, es la piel" Paul Valery



Procurando nos símbolos
A gênese primordial
Urde-se até algaravia
Explanando-se a mente cabal

Mas se viaja em círculos
Pois a corrente interpretativa
Se posta em capítulos
Revela-se repetitiva

Único núcleo consistente
Por nada faz atingir

E a mais longa profundidade
Então miúda ruga da superfície


jeudi 16 juillet 2009

Melancolia





Preciso agir, rápido. Não posso mais adiar. Cumpri minha missão: fiz com que a vida de todos ao meu redor não fosse fácil. Agora devo partir. Espero apenas os amigos ditarem-me como.

Não há de demorar. Eu sinto. Eu sei. Sei também que ninguém compreenderá. Mas assim foi sempre. Não fará diferença.

Desejo, de qualquer modo, que meus órgaos possiveis sejam doados e meu corpo sirva para pesquisa de medicamenntos, principalmente o cérebro, na esperança de contribuir com os próximos que experimentarem a inabilidade vital emocional a que fui acometida.

Que se possa saber mais!
Que se possa sofrer menos!
Irei em paz!

dimanche 28 juin 2009

A esquizoescritura


(des)retalhos

Em O livro por vir, percebe-se que "é possível que a humanidade um dia conheça tudo, os seres, as verdades e os mundos, mas haverá sempre uma obra de arte (talvez a arte na sua totalidade) que escapa a este conhecimento universal. Esse o privilégio da atividade artística: o que ela produz, frequentemente até um deus o deve ignorar".

Blanchot sobre Joubert e utopia : a meta seria desimpedir-se de todas as convenções que regram o pensamento para transformá-lo numa ação livre e libertadora, representada na escrita como prática e experimentação

Blanchot intenciona minar a literatura para livrá-la de suas idéias restritivas, visando uma escrita que sugere como sendo "fora do discurso, fora da linguagem" , o que chamei de Esquizoescritura, o título do post.


Questiona os conceitos Deus, do Eu, do Sujeito, da Verdade, do Uno, da própria idéia do Livro e da Obra, a tal ponto que essa escrita, antes mesmo de ter o Livro como meta, assinale seu próprio fim. Assim, nessa linha de pensamento, é possível que escrever exija o abandono de todos esses princípios, ou seja, o fim e também a conclusão de tudo o que garante a nossa cultura, não para voltar idilicamente atrás, mas, antes, para ir além, ou seja, até o limite, com o objetivo de tentar romper o círculo de todos os círculos: a totalidade dos conceitos que funda a história, nela se desenvolve e da qual ela é o desenvolvimento"

Diz Blanchot que
"escrever, então, passa a ser uma responsabilidade terrível. Invisivelmente, a escrita é convocada a desfazer o discurso no qual, por mais infelizes que nos acreditemos, mantemo-nos, nós que dele dispomos, confortavelmente instalados. Escrever, desse ponto de vista, é a maior violência que existe, pois transgride a Lei, toda lei e sua própria lei".

Uma prática surrealista, que provoca o desconhecido pelo acaso e pelo jogo, seja a referência mais imediata de Blanchot,

→ talvez algo de 'devir' como em Hegel

--> alcançar o objetivo da ampliação desses limites sem limites.

"Toda questão é determinada. Determinada, ela é esse próprio movimento pelo qual o indeterminado ainda se mantém na determinação da questão".
"A questão é movimento, a questão de tudo é totalidade de movimento e movimento de tudo".
Maurice Blanchot - A conversa infinita - Vol. 1 - A palavra plural.

Blanchot indica a necessidade de pensar a existência humana, libertando-a de jugos como o pensamento que se estrutura em idealizações unitárias, que necessariamente levam à discriminação do outro, do diferente. Com isso, reafirma a necessidade de convivermos com a diferença e a pluralidade para "talvez nada menos do que quebrar o jugo do deus e sair do círculo onde ele permanece fechado pelo fascínio da unidade", em busca de "uma palavra verdadeiramente plural".



mardi 9 juin 2009

O PRESENTE QUE VIVE EM MIM



"Às vezes começa-se a brincar de pensar e eis que inesperadamente o brinquedo é que começa a brincar conosco. Não é bom. É apenas frutífero."
(Clarice Lispector in Aprendendo a Viver)

Não invista em minhas fraquezas, elas podem adquirir poder e se desenvolverem , crescendo como uma bola de neve e esmagando o que há de potência criativa, ainda que excêntrica e de funcionamento peculiar, talvez codificado transcendendo a linguagem socialmente aceita e usualmente utilizada.

Nietzsche escreve a um amigo sobre suas impressões do livro Memórias do subsolo (Dostoiévski, 2000): “A voz do sangue (como denominá-lo de outro modo?) fez-se ouvir de imediato e minha alegria não teve limites”.

O frio da angústia dilacera o peito num outono mortífero de tremores inexoráveis, indigentes resquícios de vida nos intermédios de um acaso irrevogável da existência que se faz imposta e autocraticamente veemente, torturando arfantes suplícios de liberdade e energias condensadas, sincretizadas em fractrais mentais.

"Sou uma pessoa que tem um coração que por vezes percebe, sou uma pessoa que pretendeu pôr em palavras um mundo ininteligível e um mundo impalpável. Sobretudo uma pessoa cujo coração bate de alegria levíssima quando consegue em uma frase dizer alguma coisa sobre a vida humana ou animal."
(ibid.)

A noite nefasta invade novamente meu recanto, 'urubserva-me' por entre as grades indesejadas do destino através da janela. Nunca dá paz e sossego. Vá-te embora, negra maligna! Deixa-me! Não preciso trevas externas quando o interior já se mostra por demais obscuro e sibilino. Ânsia por luz, calor, brilho interior e cristalino. O restante é totalmente dispensável. Sem embargo, hei de sucumbir... Soníferos, pra que vos quero?!

"Se o meu mundo não fosse humano, também haveria lugar para mim: eu seria uma mancha difusa de instintos, doçuras e ferocidades, uma trêmula irradiação de paz e luta...(...)Antes o sofrimento legítimo que o prazer forçado."
(ibid.)

Pois eis meu mundo, o semi-humano. Sinto-me separada de tudo e todos por uma camada de cinco km de espessura de puro vácuo.

"Como se sabe, somente a morte é grátis. (...)nesses tempos de provação, restam duas perspectivas, vê-los todos juntos e morrer em liberdade."
(Freud. In "Psicanálise, Literatura e Estéticas de Subjetivação", org .Giovanna Partucci)

A sensibilidade inteligente talvez seja um dom, que pode ser atrofiado se desmotivado ou aperfeiçoado se praticado com dedicação, podendo chegar a constituir um coração inteligente, minha grande meta na vida. Sinto tanta angústia, sofrimento, exaustão, lágrimas ardentes de sangue escapam da alma a seu arrepio. Tremo a vigília e o agir a cada segundo. Dói, que é isto a acontecer? Pressão forte, contundente em sensação quase sólida e implacável sem defesas.

"Que o pensamento seja lançado como uma pedra por uma máquina de guerra "
(Deleuze)

Essa carne e osso e coisinhas mais me causa tanta estranheza. Eu poderia jurar que esse corpo não é meu. Mas de quem seria? Alguns transmitem paz e suavidade, outros estresse e correria, outros ainda alegria e energia; também há aqueles que, como eu, possuem a sensação de nada transmitir...

"Somos de carne, mas temos de viver como se fôssemos de ferro."
(Freud)

Uma vida é uma prisão, uma temporada para existir em apenas um corpo, com apenas um tipo de sangue, um só aniversário para cada ano, uma só família, apenas um cabelo, uma voz e não mais que uma impressão digital e uma ânsia de ser o que seria mas não é, de amar o que amaria mas não existe, de viver o que viveria e nunca acontece, uma ânsia infinita, de todo possível irrealizável, cuja extinção mataria tal vida. Vida é movimento. Sem insatisfação não se vive. Às vezes fico a observar uma criancinha pequena cuja naturalidade e desenvoltura dão a impressão de que conhece o mundo há milhões de anos. Onde foi que adquiriu tal familiaridade com esse espanto de mundo em que vivemos? Por onde esteve que decidiu aparecer há apenas cerca de dois anos? Por que esconde tanto o que sabe?

"Você me pede um conselho e atrevidamente eu dou o Grande Conselho:
- Seja você mesmo! Porque ou somos nós mesmos ou não somos coisa nenhuma. E para ser si mesmo é preciso um trabalho de mouro e uma vigilância incessante na defesa. Pois tudo conspira para que sejamos meros números, carneiros de vários rebanhos - os rebanhos políticos, religiosos, estéticos, - Há no mundo ódio à exceção e ser si mesmo é ser exceção."
(Monteiro Lobato)

Vida justa ou injusta? O que é justiça? Os tempos atuais mostram claramente o quanto é vão e nada inteligente pensar dessa maneira. Se não se funciona como gostariam é como se não se tivesse mais pernas, braços, cérebro, desejos... Como se não existisse e aí toca na ferida humana que jamais deve deixar de ser lembrada e (re)fletida a todo tempo, na eterna luta da minoria ousada contra a intolerância, a exploração, a alienação, o comodismo, o caos da ambígua civilização.



"Eu sou assim, quem quiser gostar de mim eu sou assim.
Eu sou assim, quem quiser gostar de mim eu sou assim.
Meu mundo é hoje não existe amanhã pra mim
Eu sou assim, assim morrerei um dia.
Não levarei arrependimentos nem o peso da hipocrisia.
Tenho pena daqueles que se agaixam até o chão
Enganando a si mesmo por dinheiro ou posição
Nunca tomei parte desse enorme batalhão,
Pois sei que além de flores, nada mais vai no caixão.
Eu sou assim, quem quiser gostar de mim eu sou assim."

( Meu Mundo É Hoje - Paulinho da Viola)

dimanche 17 mai 2009

Eu?! Onde?!



"Ofuscante e colossal, com que rapidez o Sol nascente me mataria

Se eu não pudesse agora e sempre lançar o Sol de dentro de mim."

(Walt Whitman)

Confusa, assustada, flutuo

No fluxo deste enérgico ar.

O desalento do momento

Enfraquece minhas vértebras.


Sinto os vermes babarem.

De olho gordo,

Entrego as rédeas.

Porém temo o amparo.


Este que já até

Não convence, quase renego.

Dói, com força de touro e garra de tigre.


Minha ferida,

Inflamada no peito...

Invisível, mal-amada, que jeito?

mercredi 13 mai 2009

Ego fragilizado, no extremo da sensibilidade devido `as circunstâncias momentâneas


Calafrio pavoroso invade o peito, toma conta do sujeito, evoca sensações terríveis, lembranças indizíveis, com quem posso contar quando não consigo dizer o que sinto e tudo é tão só em mim, ninguém mais está passando por isso. Será algo pior possível? Sempre aprendi imitações, mas descobri que funcionam cada vez menos, sou tão diferente e distante diante um pavor com o qual tenho que me haver tão sozinha.

Queria ser um mosquito para que o trabalho gasto para existir fosse menor, os estragos menores, a cobrança fosse menor. Cada vez que vejo a luz hoje e o que talvez espera o tempo futuro, desejo pular a janela e voar para o Outro Mundo, a inconsciência. Mas receio ainda não passar a porta e ficar aleijada, sofrendo dor nesta mesma bosta de mundo.

Solidão no mais profundo sentido do termo. Tanta gente mexendo e vejo-me obrigada a roubar remédios para dormir para ver se o sono faz-me companhia. Só não sei o que ocorreu. Só seu que não dormi e fiz até o que não me lembro. Como se a vida não fosse minha. E agora tenho que pegá-la de volta, porque ninguém quer saber dela. O efeito divertido passa.

Náusea mundana dizendo o desprezo explosivo sentido, vivido, cuspido em terra do “esperto”, corrupto encoberto. Lixo vomitado com odor de fome, miséria, carência social, fundamental

Tocar é bom se é querido, ou vira tortura. Unir duas produções químicas divinas misturando as energias e produzindo algo novo, seja sensação, prazer, sentimento, visão, filho... Sem relação de toque fica muito autista e inumano, perde fala e significações variadas. Tocar o ar, o tempo, o espaço no que tem de imaginário, veleidade singela, contemplação... Tocar o ponto do limite, da dor, do desamparo é dispensável, dá muito medo.

Fantasia borbulhante, nível infanto – ainda não diz. Quisera quimera realizasse, que mera veleidade – ingenuidade. Tocaste o cerne do arrepio, do sensível inaudito, indizível. Mobiliza forças do Mistério, sente-se levado pelo inferno, caminha cego ao obscuro, imperceptível empuxo...

Separação transicional tida como permanente motiva desamparo infinito, embute caos de subalmas. Verdade dita e revista, qual é a referência do ponto de vista, dependente também é o sentido e significado das palavras expressas no momento dito da entrevista.

Inferno que sente é gente plangente colhendo migalhas, folguedos de palha. Espalha boatos, consensos, incenso. Granjeia goiaba e até beterraba. Na nuvem o céu dos pecados, tolhidos, vendidos, sofridos realces de real reação. Se lei fora feita, feita fora também a cadeia, e a cadeia de vícios aprisiona o tolo embargado, embriagado e barbado .

Brasil quer ordem e progresso, não quero ordem, nem rigidez, imposição, ditação; quero é organização, articulação, reflexão, muito longe de perfeição, mas muita movimentação em direção à evolução, com participação e determinação. Progresso contínuo é ilusão, regressões pertencem à trajetória de qualquer evolução que chegou à conclusão.

Abuso de poder, displicência profissional, língua maioral, orgulho delinqüente, nem enxerga o que está adjacente.

Confusão de identidades, de personalidades, regressão à fase oral, dependência e indiferenciação, abandonada à ilusão...

Correção? Nem tentativa. Desamparo ao lento desgosto do vão...

mardi 12 mai 2009

Trote


Sm.1. andadura natural das cavalgadas, entre o passo ordinário e o galope, e que se caracteriza pelas batidas regularmente espaçadas das patas.


Balança e dói dentes batem da pessoa, o traseiro tá duro e não pára de bater, cansa o bobo do trotar, e não o bichano, se o fosse mas é ginete do melhor. Cavalgando ao ar livre por sinal nem é tão livre nem tão sinal nem importa que sob as rédeas ainda cavalga e respira sente vento e seu talento.


vendredi 8 mai 2009

A verdade confessa



Não sei se o que me move é algo de amor por ti
Vim ao mundo sem reservas ou sábios conselhos
Nem sei ao certo se amor seria toda esta estranheza
Que me acomete sem que eu possa reconhecer

Sensações inauditas nisto que palpita e indecifro
Amor... seria uma mentira, uma beleza, uma surpresa?
Do destino o golpe desmedido, gérmen da sorte ou do azar?
Ou dependerá do ponto de vista e de se deixar levar?

Eu não sei amar, mal sei respirar, oh destino
Que esperas desta ingênua inapta criatura
Incapaz de cozinhar, lavar, passar, poderia ela amar?

Não, respostas nunca virão, eis minha danação
Terei, então, de escolher: arrisco pular sem saber
Ou deixo o tédio fazer-me endurecer até o envelhecer?

Tania Montandon, 22/04/09

lundi 27 avril 2009

Civilização?!

Das trevas uma odisséia
Pântanos de mundos mil

Visões ignotas, estagnantes

Tempestades de estímulos


Banhando da vida o rio
Bruscas, ternas, bruxas, serras
Fervor vindo do fundo do espírito
Suplicando que se faça jus à incerta andança


Caminho, caminho, caminho...

Frestas de liberdade
Angústia, responsabilidade

Igualdade, onde escondes?


Caminhante, no caminho, caminha

Tantos porvires, nem tantos de esperança

Demagogia dos governantes assaltando
geladeiras, saúde, moradias, conhecimentos

Agora tomam também viagens das férias de milhares
Para o luxo sem brilho de meras vaidades, vontades selvagens

~

mardi 14 avril 2009

Fora da Lei



Voando na incerteza do existir
Além da realidade, aquém do advir
Saía do corpo como se tivesse o direito
Subia o morro da solidão, o sujeito

Desdenhava perigos na alta melancolia
Chorando cantos de dor e magia
No céu de estranheza e torpeza
Dizia adeus à Felicidade, com tristeza

Assim terminava o passeio sem corpo
Um corpo inteiro, desconhecido, alheio
Do qual seria escravo até o suspiro derradeiro

Outros corpos interagiam com aquele
E o sujeito, indiferente, assistia a esse teatro
Do lado de dentro, com seu riso sarcástico em seu átrio